Estávamos numa sala assistindo a breves palestras dos professores sobre seus projetos de iniciação científica. O departamento de matemática havia organizado uma espécie de "feira ao contrário". Em lugar dos alunos saírem pelos departamentos buscando projetos, os donos dos projetos foram à sala onde os alunos estavam para buscarem interessados.
Mas alguém muda o protocolo das palestras e entra com um pêndulo duplo, parecido com este. Nenhuma palavra. Ele simplesmente coloca o pêndulo numa posição inicial que parecia fácil de reproduzir e o solta. Silêncio. Apenas observamos.
Era década de 90. Nenhuma bateria. Sem fios, ímãs, sem motores.
Eu nunca sequer tinha cogitado a existência de um pêndulo duplo. Ainda assim, ele me encantava muito mais do que se tivessem me apresentado um unicórnio.
Quando o pêndulo sossegou, passando a se comportar obedientemente como um pêndulo comum, o movimento foi interrompido e o professor (se não me engano, era o Ildeu) pede a um aluno para recolocar o pêndulo na mesma posição inicial e o soltar.
E todos observamos. Parecia outro pêndulo. Parecia ter vida própria!
E o procedimento se repetiu algumas vezes, com alunos diferentes, embalados pela vontade de colonizar as vontades daquele aparato rudimentar, sem vida ou inteligência, tentando colocá-lo exatamente na mesma posição inicial para conseguir com que ele nos cortejasse com um padrão de comportamento semelhante a um dos anteriores.
Todas as leis físicas que criamos e que se atrevem a prever e descrever os movimentos daquelas hastes são conhecidas há séculos. Nada de novo havia ali... e, ainda assim, indomável. Totalmente desobediente, como se fosse um organismo vivo, resistindo bravamente a se adaptar às nossas pueris classificações.
Depois de várias tentativas, o professor rompe o silêncio e revela "Vocês acabaram de testemunhar um exemplo de um sistema físico que classificamos como caótico."
Em poucas palavras, e de forma mais técnica, é aquele sistema cujo comportamento varia tão não linearmente com as condições iniciais que, apesar já termos ao menos um modelo que consiga prever cada uma das posições e velocidades futuras, ainda assim, o resultado, na prática, é praticamente imprevisível.
Desde aquele dia, eu tenho buscado montar ou adquirir um pêndulo como aquele, que para mim é equivalente a uma doce lembrança de infância, mas só consegui fazer isso agora, em 2025, com ajuda de um amigo, que o trouxe para mim do exterior... e que tenho a felicidade de dividir com quem tiver olhos para ver como eu vejo.
por Demétrius Melo de Souza