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Politização entre os Alunos do Colégio Pedro II não é um mito!
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Hoje, dia 21 de fevereiro de 2011, alunos do Colégio Pedro II pararam uma das ruas mais movimentadas de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em protesto (entre outros motivos) às condições insalubres dentro das salas de aula, por conta do excesso de calor , em contraste com as condições ideais de trabalho (principalmente no que tange à climatização) presentes nos gabinetes ligados à direção da Instituição.
Tenho vários alunos do Pedro II. Tenho amigos que são professores do Pedro II. Tenho uma idéia bastante precisa do calor que faz em São Cristóvão. Conheço os demais pleitos dos alunos, mas não quero discutir aqui quem está certo ou quem está errado. Isso já está sendo feito nos blogs citados no cabeçalho deste artigo. Antes de continuar, gostaria de esclarecer que a minha relação com o Colégio é mais profunda do que a que eu deixei transparecer. Estudei no Pedro II na década de 80 e, como quase todos os alunos de todas as épocas, é difícil passar por aquele prédio centenário, na Marechal Floriano, e não me sentir parte dele, apesar de não mais o frequentar há décadas. A diretora da minha Unidade era a Professora Maria Amélia do Amaral Palladino. Uma bela e elegante senhora que me ensinou boa parte de tudo que sei sobre liderança, com atitudes extremamente sutis, normalmente com pouquíssimas palavras. Provavelmente nem ela sabe que me impressionou tanto assim. Aliás, esta é uma das mágicas, e a maior das dádivas, do Magistério. Por vezes eu a encontrava atravessando os corredores e parávamos para discutir rapidamente sobre algum assunto. Em outras, precisava marcar uma audiência e houve situações em que ela pediu para que eu resolvesse determinado problema com um de seus assessores. Bom... Nada de mais não é? De fato. Mas este é um ponto importante e que deve ser ressaltado. A Diretora do Pedro II, unidade Centro, não precisava sair do seu posto para resolver as questões que podiam ser resolvidas por outras pessoas.
A Diretora do Pedro II, unidade Centro, sabia assumir o seu posto nas situações que só ela tinha competência para deliberar e, mais complicado que isso, sabia identificar os momentos em que a sua maturidade era decisiva para que todos os eforços convergissem para uma solução duradoura. Quando conversávamos, ela me olhava nos olhos. Não punha toga nem se sentava meio metro acima, pronta para ditar regras. Pacientemente me esperava terminar de desenvolver o assunto tratado e refletia sisudamente sobre o que havia sido abordado. Se percebesse que eu não estava firme nos meus pleitos, ele intercedia e tentava me ajudar a consolidar as premissas do discurso que me havia levado lá. Em reuniões com alunos, professores, funcionários, nunca privilegiou qualquer parte. Sempre ponderou como se o mundo fosse, ou devesse ser, regido primeiramente por ideias, e não por patentes. Quando cantava o hino, junto com todos os alunos, ela o fazia com verdade. A mesma verdade com que me abraçava nas poucas vezes em que casualmente nos encontramos pelo corredores do Colégio. Em suma, não pude impedir que Maria Amélia do Amaral Palladino virasse, para mim, um mito. E, como todo mito, certamente guarda pequenas (ou enormes) diferenças com relação à pessoa que o fez germinar. Voltando ao protesto, entristeceu-me saber que os alunos organizaram a mobilização e, pelo menos num primeiro momento, sequer foram recebidos pela direção da Instituição para dialogar sobre o assunto. Este retardo de atitude, se houve de fato, certamente contribuiu para ampliar o incômodo causado tanto para os alunos, que ficaram hasteados ao sol por horas, quanto para aqueles que moram ou simplesmente passavam pelo local. O Colégio Pedro II não é um curso preparatório para o vestibular em 3 anos. Talvez seja esta a grande diferença entre ele e os colégios particulares que colocam anúncio na TV e apregoam aprovar os primeiros lugares das universidades públicas. Quando estudei lá, nós refizemos os Estatuto dos Alunos do Colégio (em analogia à Assembléia Nacional Constituinte de 88). Pleitear mudanças, pequenas ou grandes, era natural. Mais que isso, para isso estávamos lá. Aprender a constituir os nossos pleitos e ousar fazê-los parecia ser tão importante quanto aprender análise sintática. Mesmo que estes pleitos fossem, numa primeira análise, contra as diretrizes da própria direção do Colégio. Este, para mim, dentro do espaço mitológico que o Pedro II ocupa em minha memória, sempre foi o grande diferencial entre o meu Colégio e os cursinhos em três anos travestidos de colégios de verdade. Ainda dentro do espaço mitológico que a Profa Maria Amélia ocupa em minha memória, eu parei para pensar no que ela faria se estivesse na posição de Diretora Geral naquele momento. Em lugar de ignorar o protesto, chamaria a comissão organizadora do mesmo e lhes diria: “Gostaria de parabenizá-los pelo grau de politização que foi demonstrado pelo movimento. Cidadania começa exatamente desta forma: detectar problemas, arregaçar as mangas e lutar para resolvê-los. Gostaria de me desculpar se não enxerguei a urgência dos seus pleitos antes. Poderia estar trabalhando junto com vocês há mais tempo e ter tornado todo este movimento desnecessário. “ Ela continuaria o seu discurso ressaltando o lado bom da mobilização, iria advertir sobre os problemas causados, como o trânsito parado e o impacto sobre a vida das outras pessoas que nada tinham a ver como movimento. Proporia alternativas para fazer outras manifestações de forma mais ordeira e o mais possível de acordo com o que a lei determina. Não sei se ela acolheria todas as reivindicações. Mas certamente ela ouviria as mesmas, ponderaria e discutiria alternativas caso a solução do problema não estivesse a seu alcance. Mas, é claro, o que está na minha cabeça é um mito. Não é a realidade. A realidade é o que é de alguma forma tangível aos nossos sentidos. Embora de difícil aceitação, não posso deixar de considerar a hipótese de que, ao contrário das minhas expectativas, a líder que me inspirou, se estivesse hoje na Direção Geral da Instituição, tivesse, por exemplo, fechado as portas bruscamente e pedido uma bela pizza para festejar a chegada da polícia dispersando os manifestantes. Por isso, este protesto foi tão importante para mim. Mostra que os alunos do meu Colégio, protestando da maneira mais correta ou não, pelos motivos mais justos ou não, estão à frente daqueles que deveriam ser seus mentores no que diz respeito à luta pela cidadania. E, principalmente, quando se fala em “luta pelos nossos direitos”, não há melhor forma de aprender a fazer isso senão “fazendo”. Vocês fizeram. Vocês ousaram. Hoje, mais que nunca, sinto orgulho de ser mais um elo desta corrente. Mas não se enganem! Cidadania e politização não se aprendem só com faixas e gritos. Não estamos mais na década de 60 e São Cristóvão não é São Bernardo do Campo. Não acham razoável que, com tanta tecnologia, pode ser que existam hoje maneiras mais eficientes para sensibilizar as pessoas que mandam nas que não estão nos ouvindo? É preciso fazer. É preciso ousar. Mas é preciso pensar todos os dias sobre a melhor forma de fazer tudo isso. Acreditar sinceramente que podemos achar instrumentos melhores para defender nossos direitos com o menor impacto possível sobre os direitos dos outros e continuar atuando enquanto estes novos instrumentos não são achados é o desafio!
Saudações e congratulações! |